quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O Inquilino

Dentre os títulos que compõem a “trilogia do apartamento” –os outros são “Repulsa Ao Sexo” e “O Bebê de Rosemary” –“O Inquilino” é o que preserva uma estrutura narrativa fiel ao jansenismo, com o qual certamente Roman Polanski tinha forte identificação: Não apenas neste filme a narrativa é circular (como comprova o alarmante, misterioso e fascinante epílogo) como também –o quê é habitual no inclemente cinema de Polanski –a trama reforça as certezas de que é o homem o elaborador de sua própria ruína.
Quando um jovem imigrante polonês se hospeda no apartamento de um prédio londrino, ele logo descobre que os moradores não fazem a menor questão de esconder seu desprezo. 
Ele sabe que o morador anterior de seu apartamento tentou cometer suicídio. O que ele não sabe é que as razões para esse suicídio irão assombrar sua mente nas semanas por vir, quando o simples ato de viver naquele lugar se tornará um verdadeiro inferno. 
Aos poucos, ocorrências corriqueiras do cotidiano vão se somar umas às outras, acarretando momentos em que ele não saberá discernir realidade de alucinação, drenando-lhe assim a lucidez. Fazendo com que sua personalidade se confunda com a do inquilino anterior (que, a propósito, era uma mulher). 
Este conto de suspense primoroso sobre o poder opressivo da discriminação é um perfeito exemplo da excelência que o diretor (e aqui também ator) Polanski não tardou a atingir em sua carreira (uma pena esta grande obra ser muito menos conhecida do que seus trabalhos em solo norte-americano como “Chinatown” e o próprio “O Bebê de Rosemary”).
As cenas construídas por Polanski, assim como a atmosfera de desalento, acompanhadas de um indissolúvel sarcasmo são uma verdadeira aula de cinema, e o final, aberto a múltiplas interpretações e significados, é um daqueles momentos que nos perseguem por dias a fio.

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