sexta-feira, 15 de abril de 2016

Repulsa Ao Sexo

A mente de Roman Polanski é um recôncavo de pesadelos que assombram a alma humana. Seu interesse por tudo que conduz a psiquê ao desequilíbrio é patente em sua filmografia, e talvez, o único elo de ligação de fato entre obras tão distintas como "Chinatown", "O Bebê de Rosemary", "O Pianista" e "O Escritor Fantasma".
Dentre tantos clássicos que o seu talento superlativo urgiu ao longo das últimas cinco décadas, a não tão conhecida "Trilogia do Apartamento" reúne os trabalhos mais representativos de quem Polanski é como cineasta e ser humano. Compõem essa trilogia "Repulsa Ao Sexo", "O Bebê de Rosemary" e "O Inquilino".
Difícil dizer qual é o mais magistral.
E mesmo esse dado é bastante significativo: Há uma dedicação toda especial que Polanski dedicou à essas três obras que as conectam uma à outra, não apenas pelo apelo claustrofóbico de seu ambiente restrito e fechado, mas também pelo primor com que Polanski as concebeu.
"Repulsa Ao Sexo" é o primeiro e talvez o que melhor permita vislumbrar uma evolução em Polanski, nos objetivos que ele possuía como contador de histórias, e na própria forma como ele expressava suas angústias: É sabido que ele não ficou satisfeito por completo com o resultado (embora seja magnífico), tanto que depois realizou "Armadilha do Destino" com François Dorléac (irmã, veja só, de Catherine Deneuve) no qual empregava alguns artifícios narrativos similares e que, segundo o próprio Polanski, resultou numa obra mais próxima do que ele desejava.
Discordo, "Repulsa" é infinitamente superior.
Pode-se dizer, desta vez, como pura especulação, que "O Inquilino" é, também ele, uma forma de Polanski rever e preencher lacunas que ele julgou ficarem vazias em "Repulsa" já que o protagonista em ambos possuem naturezas muito parecidas: Em "Repulsa", Deneuve, linda como nunca, é uma cabeleira belga morando em Londres; em "O Inquilino", o próprio Polanski é um imigrante polonês tentando viver em Paris.
Na sua história, a personagem de Deneuve desenvolve aos poucos uma aversão incontrolável e cada vez mais brutal ao sexo oposto. Sua âncora com a realidade e com a sanidade parece ser sua irmã, com quem divide um apartamento, mas no fim de semana em que ela vai viajar com o namorado, todas as neuroses represadas irão desabar conduzindo a uma tragédia.
A verdade é que a técnica de um ainda jovem Polanski compensa por completo a eventual simplicidade que a história pode revelar em um momento ou outro. O filme é repleto de cenas memoráveis como o corredor cujas paredes desenvolvem braços que agarram o corpo da protagonista, e as próprias cenas em si são de um brilhantismo palpável e espantoso. Uma obra-prima para ser vista, revista e compreendida, de repente, até mesmo por seu próprio realizador.

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