sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Shakespeare Apaixonado

O trabalho do diretor John Madden –de um estilo que não se define com facilidade em meio aos filmes que realizou, tão díspares quanto este, o drama “Ethan Frome-Um Amor Para Sempre”, a comédia “O Exótico Hotel Marigold” e sua continuação, o thriller de espionagem “A Grande Mentira” e o suspense político “Armas Na Mesa” –ao que parece caiu nas graças da Academia de Artes Cinematográficas ávida que ela estava por enfim ver um filme que biografasse o tão aclamado bardo William Shakespeare.
Só isso mesmo para explicar o fato desta produção (que a rigor é uma mera comédia romântica de época) vencer o Oscar de Melhor Filme numa disputa que incluía o imbatível “O Resgate do Soldado Ryan”. Claro que, avaliando com mais calma, outro motivo aparece: Um dos produtores de “Shakespeare Apaixonado” era Harvey Weinstein que, durante anos, foi determinante para quem ganhava ou perdia as premiações do Oscar, até ele ser completamente afastado da indústria por acusações recentes de assédio sexual.
No filme mesmo, pouca explicação se encontra para as sete estatuetas que ele ganhou: Na trama que se desenrola por meio de farsa e galhofa conhecemos o jovem Shakespeare (Joseph Fiennes, irmão de Ralph que apesar dos esforços não vingou), um rapaz inspirado pela vida boêmia da Inglaterra do século XVI, a escrever peças de teatro para o povo, sua grande fonte de diversão.
O lugar mais freqüentado pela plebe para assistir as histórias que os envolviam era o teatro “The Rose”, de propriedade do endividado Hemslowe (Geoffrey Rush). Com os credores prestes a lhe arrancar o couro (literalmente!), ele deposita suas esperanças na próxima peça escrita por Shakespeare cujos trabalhos costumam ter boa aceitação de público, embora o rapaz esteja passando por uma crise criativa.
A outra peça do tabuleiro é a jovem Viola (Gwyneth Paltrow que absurdamente levou o Oscar de Melhor Atriz tendo como concorrentes Cate Blanchett, por “Elizabeth”, e Fernanda Montenegro, por “Central do Brasil”), filha de pai rico e com o casamento já arranjado com o Lorde Wessex (Colin Firth, numa época em que só era escolhido para papéis vilanescos). Viola, que leva o nome da mesma protagonista de Shakespeare para a farsa “Noite de Reis” e aqui, também ela pratica sua própria farsa, deseja conhecer o mundo antes de restringir a vida à um matrimônio opressor. Ela quer conhecer as peças de teatro encenadas no vilarejo e, se possível diante de seu maior atrevimento, atuar nelas –naquela época, a atuação era estritamente proibida às mulheres restando aos homens fazer os papéis femininos também.
Viola, assim, se disfarça de menino para participar dos ensaios no “The Rose” onde Shakespeare corre para entregar sua peça “Romeu & Ethel, A Filha do Pirata”. Em algum momento, o escritor, porém, perceberá que aquele menino tem uma feminilidade impossível de ser encenada e descobrirá a farsa de Viola –e por ela se apaixonará.
Tentando dar prosseguimento a esse romance da forma como podem e com uma data-limite certamente estipulada –o casamento de Viola e a apresentação da peça são marcados para o mesmo dia! –os dois amantes vêem sua história de amor ganhar a tumultuada rotina do teatro como pano de fundo enquanto os aspectos eufóricos, angustiantes e até frustrantes desse amor vão servindo de combustível para que Shakespeare transforme a peça na obra que, por fim, será chamada de “Romeu & Julieta”.
Certamente gracioso visivelmente feito com o propósito despretensioso de divertir e completamente sem compromissos com qualquer realidade que tivesse envolvido a vida de Shakespeare ou a criação de “Romeu e Julieta”, este “Shakespeare Apaixonado” até seria um filme interessante e simpático não tivesse ele sido superestimado a ponto de protagonizar a premiação mais eclética e questionável de toda a história recente do Oscar.

Hoje ele é visto como um filme mediano que tirou prêmios significativos de grandes obras que mereciam mais.

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